Por: Ian Ferreira
Na tarde da última terça-feira (25), o mês dedicado à conscientização contra queimaduras e lesões na pele foi tema destaque na rádio Educadora do Maranhão. Comandando o Estação 88, Valéria Baldez e Matheus do Brasil receberam Ana Caroline Hortegal, diretora-geral do Hospital da Ilha, para falar de um assunto tão importante e pouco divulgado atualmente.
Junho Laranja é uma das várias temáticas abordadas no mês de Junho, enfatizando a importância de educar a população para prevenir e tratar casos de queimaduras e lesões na pele.
”O Junho Laranja é um mês alusivo de prevenção às queimaduras. Ele já faz parte do calendário do Ministério da Saúde. O dia 6 de junho é o Dia Nacional de Prevenção às Queimaduras. E aí, diante disso, a Sociedade Brasileira de Queimaduras, todo ano ela trabalha um tema. Pensado esse tema, é sempre baseado nos números que a gente vem apresentando no Brasil, nos estados.” destaca Carol Hortegal.
A abordagem de assuntos dentro dessa temática é ampla. A cada ano a Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ) escolhe um tema baseado no que está mais recorrente em nosso país. Infelizmente, no Brasil, uma mulher é vítima de feminicídio a cada 17 horas, e esses números alarmantes fizeram a SBQ enfatizar a violência contra a mulher no Junho Laranja.
“Esse ano, o tema do Junho Laranja foi voltado à prevenção de queimadura contra as mulheres, visto que nos últimos três anos o número de mulheres vítimas de queimaduras por tentativa de feminicídio, por tentativa de autoextermínio em decorrência de algum tipo de violência que ela vem sofrendo e tem ocasionado, levado, ela a cometer o autoextermínio através de queimaduras, tem aumentado muito. E daí a Sociedade Brasileira de Queimaduras pensou na importância de aproveitar o Junho Laranja e deixar mais em evidência o combate de prevenção à violência contra a mulher através das queimaduras.” explica.
Carol Hortegal destaca, ainda na vertente da violência contra a mulher, que essas agressões são prejudiciais não só para o corpo da mulher, mas também causam um trauma psicológico muitas vezes difíceis de reverter. “Feridas no corpo e marcas na alma”, é a frase do tema principal do Junho Laranja de 2025, abordando os danos e traumas que uma mulher pode sofrer em um relacionamento abusivo.
“As queimaduras contra as mulheres, quando elas são ocasionadas, geralmente é por parte de um parceiro, de um companheiro, de um namorado, de um marido ou de um ex, que não aceita muitas das vezes aquele término e o fim daquele relacionamento. E aí, isso traz relacionamentos abusivos, deixa as mulheres mais vulneráveis, na verdade, tornando elas mais vulneráveis a esse tipo de situação. E quando elas são acometidas, geralmente as partes do corpo que mais tem ocasionado essas queimaduras são as faces, o tórax por envolver a região dos seios, a localização dos seios e as partes íntimas, porque o homem, ele entende que ali é uma forma dele agredir a mulher, não só fisicamente, mas psicologicamente, e ele deixa essas sequelas, então ele deixa essas marcas, não só fisicamente, mas psicologicamente, e isso traz muitas consequências, muitos transtornos.” aponta Carol Hortegal.
Além do tema central deste ano de 2025, foi assunto também da entrevista erros e prevenções para casos de queimadura que acontecem comumente nos lares da população, sobretudo o cuidado redobrado com crianças, já que os números de queimaduras na infância também são alarmantes.
“A gente tem números bem preocupantes de queimaduras na infância. São queimaduras ocasionadas geralmente nos ambientes domésticos por líquidos quentes, por escaldamento. Então, são crianças que estão numa fase onde já aprenderam a andar, já alcança ali algum eletrodoméstico, já alcança aquela panela. Então, são crianças mais vulneráveis e ali ainda estão naquela fase de entendimento. Então, os números mostram que as queimaduras na infância são mais presentes na primeira infância, que vai até os 5 anos de idade e geralmente ocasionado no ambiente doméstico.” confirma.
Existem também as boas práticas ao sofrer uma lesão por queimadura, é muito comum quando uma pessoa sofre um acidente doméstico e ocasiona uma lesão desse tipo, se automedicar dentro de casa, passando remédios caseiros. No entanto, essas atividades não são recomendadas em casos assim, é necessário procurar um pronto atendimento profissional. É o que destaca Carol Hortegal.
”O que é a primeira coisa que ela deve fazer? Então, ela tem os cuidados dependendo do grau da queimadura, porque toda queimadura tem a de primeiro grau, tem a de segundo grau, tem aquela que é mais profunda, tem a que tem a classificação da queimadura. E o que a gente orienta? Procura sempre uma unidade de pronto atendimento. Claro que a gente fica se perguntando, meu Deus, eu me queimei, e agora? E aí a gente sabe que tem aquelas receitas caseiras que a gente foi criado, passa isso, passa pasta d’água, passa outras coisas. E a gente sempre orienta a não passar nada disso. Coloca aquele membro, coloca aquele local debaixo de uma água corrente, né? Pra estabilizar aquela temperatura.”
Falar sobre o Junho Laranja é falar sobre conscientização, educar a população para evitar acidentes com queimaduras, saber a melhor forma de tratamento se por ventura acontecer algum acidente, e principalmente, sensibilizar sobre o tema deste ano: “Feridas no corpo e marcas na alma”. Os impactos e traumas que agressões contra a mulher causam são para a vida toda, marcam na alma, e não podemos continuar perdendo mães de família para esses agressores, denuncie e procure ajuda no menor sinal que houver. Carol Hortegal destaca a importância de pedir ajuda e deixa uma mensagem para nossos ouvintes.
“Eu trago essa mensagem da importância daquela mulher que for vítima de qualquer tipo de violência e aquelas que forem vítimas de violência através da queimadura, ela sabe que ela pode contar com a equipe do Hospital da Ilha, ter o acolhimento, ter o suporte e que a gente vai estar ali dando aquelas condições e o apoio da importância dela fazer essa denúncia.”