Na volta do recesso do judiciário brasileiro, nesta sexta-feira (1º), o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, classificou como “covarde e traiçoeira” a atuação de quem pediu a Trump interferência na soberania das instituições brasileiras e definiu como “pseudo-patriotas” os brasileiros que buscaram, nos Estados Unidos, formas de punir o Brasil pelos processos julgados no supremo contra as tentativas de golpe: “Diversas condutas dolosas e conscientes de uma verdadeira organização criminosa que age de maneira covarde e traiçoeira com a finalidade de tentar submeter o funcionamento deste Supremo Tribunal Federal ao crivo de um estado estrangeiro. Esses brasileiros pseudo-patriotas encontram-se foragidos e escondidos fora do território nacional com a patente finalidade de obstrução a justiça e a clara finalidade de coagir essa corte no julgamento da ação penal do núcleo crucial da tentativa de golpe de Estado do dia 8 de janeiro”, diz.
A declaração é parte do discurso de Moraes durante a sessão extraordinária de abertura do segundo semestre do judiciário, realizada nesta sexta-feira (1º), em Brasília. Moraes citou as taxas de 50% impostas por Trump ao Brasil, o que segundo ele, gerou prejuízos ao nosso país. O magistrado voltou a citar as articulações por medidas que ele chamou de “traição” ao povo brasileiro: “É uma verdadeira traição à pátria, não só induzimento, instigação e auxílio na tentativa de submeter o funcionamento do Supremo Tribunal Federal ao crivo de um outro estado, com clara afronta à soberania nacional, mas também demonstrando auxílio para que se pratique atos hostilos a economia do Brasil. A defesa discute os interesses pessoais e o sabor amargo da traição à pátria e ao povo brasileiro. Em seguida as afirmações assumindo autoria de verdadeira intermediação com o governo estrangeiro para imposição de medidas econômicas contra o próprio país”.
Como relator da ação da “trama golpista”, o ministro Alexandre de Moraes foi taxativo no encerramento do discurso, ao afirmar que o STF vai julgar, ainda este semestre, os quatro núcleos envolvidos, sem se acovardar diante de ameaças. “Ainda esse semestre nós julgaremos todos os responsáveis, absolvendo aqueles onde não houver prova de responsabilidade, condenando aqueles onde houver prova, mas julgando e não nos acovardando em virtude de ameaças, seja daqui ou de qualquer outro lugar. O Supremo Tribunal Federal continuará a exercer seu papel de guardião da Constituição, inadmitindo qualquer ingerência interna ou externa na independência do poder judiciário, com serenidade, competência e coragem”, completou.
Barroso e Gilmar Mendes defendem Moraes durante sessão
Quem abriu a sessão foi o presidente do STF, Luís Roberto Barroso, que defendeu Moraes, sancionado pelo governo Trump e impedido de visitar ou ter movimentações financeiras nos Estados Unidos, justamente por ser o responsável pelos processos no Supremo. “Faz-se aqui o reconhecimento ao relator das diversas ações penais, o ministro Alexandre de Moraes, com inexcedível empenho, bravura e custos pessoais elevados, conduziu ele às apurações e os processos relacionados aos fatos acima descritos. Nem todos compreendem os riscos que o país correu e a importância de uma atuação firme e rigorosa, mas sempre dentro do devido processo legal”, disse.
O presidente Barroso ainda defendeu a atuação da suprema corte brasileira, que muitas vezes não conseguiu defender o país de quebras democráticas, como a Ditadura. “Nós somos um dos poucos casos no mundo em que um tribunal ao lado da sociedade civil, da imprensa e da maior parte da classe política conseguiu evitar uma grave erosão democrática, sem nenhum abalo às instituições”, afirmou.
Também pediu a palavra o ministro Gilmar Mendes, que manifestou repúdio aos ataques ao supremo, aos ministros da corte e às instituições democráticas do país. E classificou como “sabotagem” a atuação pelo tarifaço dos Estados Unidos imposto ao Brasil. “Uma ação orquestrada de sabotagem contra o povo brasileiro por parte de pessoas avessas à democracia, armadas com os mesmos radicalismos, desinformação e servilismo, afinal não é segredo para ninguém que os ataques à nossa soberania foram estimulados por radicais inconformados com a derrota do seu grupo político nas últimas eleições presidenciais. Entre eles, um deputado que na linha de frente do entreguismo fugiu do país para covardemente difundir aleivosias contra o Supremo Tribunal Federal num verdadeiro ato de lesa-pátria”, falou.
Gilmar Mendes também se solidarizou com Alexandre de Moraes e disse que o colega “tem prestado um serviço fundamental ao Estado brasileiro”, “para a defesa da democracia”.
Via: Radio Agência.