Pelas curvas dos caudalosos rios, a escorregar pelas densas águas nas baías, encurtando caminhos pelos furos e à distancia a contemplar os igarapés e igapós e as densas florestas, o grupo da Signis Brasil Jovem com a Rede de Notícias da Amazônia (RNA) seguiu em missão de comunicação a convite da Diocese de Ponta de Pedras, no arquipélago do Marajó, no estado do Pará.
O encontro ocorreu de 19 a 22 de setembro de 2019 com o tema: “No cuidado da Casa Comum: comunicadores pela cultura de paz e transformação social”. O primeiro dia, ainda em Belém, a equipe missionária se reuniu com o bispo diocesano de Ponta de Pedras, dom Teodoro Mendes Tavares, e apresentou a proposta da missão. Dom Teodoro enfatizou a perspectiva da missão. “A nossa expectativa é grande, sobretudo, no sentido de aperfeiçoar e capacitar as pessoas que já trabalham com comunicação em nossa diocese e outras pessoas que desejam atuar na evangelização com a comunicação”, disse.
A cidade que recebeu o encontro foi Muaná, o primeiro município do estado do Pará a aderir a Independência do Brasil, acontecida em 28 de maio de 1823. Os Muanenses orgulham-se de sua cidade ter servido de palco para o movimento de adesão à Independência do Brasil, sobretudo com os refugiados da revolta conhecida como Cabanagem que vieram para algumas regiões do município, como nos disse o morador Milton Nascimento, e que aponta para o trapiche e conta, “foi bem ali, os antigos falam que foi uma luta de quatro horas, e nós vencemos as forças imperiais portuguesas”, conta orgulhoso.
A cabanagem foi uma revolta do período regencial ocorrido no norte do Brasil, na antiga província do Grão Pará, que reunia, à época, os atuais estados do Amazonas, Pará, Amapá, Roraima e Rondônia, semelhante a outras revoltas em outros estados brasileiros, conforme lembra padre Edilberto Sena, presidente de RNA, que também participou da missão.
Na viagem da equipe, ao sair de Belém rumo a Muaná, que tem a distância em linha reta de aproximadamente 80 quilômetros, mas com a rota para barcos, o percurso é de 103 quilômetros o que significa, de ferry boat, seis horas de viagem. No percurso, a equipe que estava indo para assessorar a formação também é formada. Acontece já no barco a interculturalidade, pois em seis horas de viagem é possível fazer amizades. O povo marajoara é acolhedor. Não demora e ocorre a aproximação e trocas de aprendizados. Sobre a sociobiodiversidade da região logo se percebe que natureza é indissociável do social, do humano, do místico, do urbano na região. A pressa e ansiedade dos missionários em chegar ao local de missão se altera e se rende para escutar e contemplar as dinâmicas dos povos das águas e das florestas.
“Participar dessa missão representou muito para mim, principalmente por eu morar no Oeste do Pará e conhecer o outro lado do meu estado que eu não conhecia. Foi muito importante para eu compreender melhor a diversidade e o quanto nossa Amazônia é rica. Eu pensei que ia ensinar, mas foi muito melhor, eu aprendi muito mais com o povo de Muaná”, expressou Aritana Aguiar, de Santarém (PA), a jovem que colaborou na assessoria da oficina de redes sociais.
As atividades missionárias foram realizadas em escolas por meio de cine-debates e rodas de conversas com os estudantes. Já as formações para os comunicadores da diocese de Ponta de Pedras se deram por meio de oficinas, ou seja, trilhas de comunicação, todos participaram de todas as oficinas.
Nas rodas de conversas e cine-debates nas escolas discutiram-se os grandes projetos de investimento na Amazônia e suas implicações, em especial, a construção de hidrelétricas nos rios amazônicos e as recentes queimadas. “Eu fico perplexa com o governo! Somos governados por pessoas ditas inteligentes, estudadas, mais velhas. E dizem que a sabedoria está nos mais velhos, só que nesse caso, não. Eles não estão pensando na natureza em momento algum. Eles simplesmente querem implantar isso, pegar lucros e não estão olhando para a natureza, porque eles não vão conseguir repor tudo isso”, sentencia a adolescente Ligia Martins, que participou do cine-debate.
“Quando eu soube das queimadas na Amazônia, eu realmente fiquei muito triste, não soube o que fazer, fui sentar com meus colegas para debater, mas a gente se sentiu sem voz, porque a gente realmente não soube o que fazer, mas a gente começou a plantar algumas árvores, a regar as plantas, cuidar mais daquilo que a gente pode e está ao nosso alcance. Eu queria que o governo nos ouvisse mais. Por incrível que pareça, os jovens e o povo, estão pensando mais do que aqueles que estão no poder”, assegura Ligia.
Para o jovem missionário Franklin Machado, de Florianópolis (SC), a missão trouxe um novo esperançar: “Essa experiência de comunicação na Amazônia trouxe um novo esperançar, colocou em meu coração e trouxe a certeza que a comunicação não tem limites, ela rompe barreiras, rompe estruturas, e na Amazônia, sobretudo, comunica essa grande Casa Comum, espaço da ação de Deus”, afirma o jovem que assessorou a oficina de fotografia e vídeo.
Marineia Morais da Silva, da Catedral Diocesana Nossa Senhora da Conceição, de Ponta de Pedras, ressalta que participar da formação a motivou na missão de comunicadora. “O encontro nos trouxe muitos conhecimentos. Nos repassaram experiências e conhecimentos e nos deixam motivados para continuar nossa de missão na comunicação. E através desse encontro pudemos perceber que a comunicação está em todo o canto, foi uma experiência produtiva e esperançosa”, conclui Marineia.
Para o coordenador da Signis Brasil Jovem, Ricardo Alvarenga, a missão calhou em um momento propicio: “Estamos vivenciando o Sínodo para a Amazônia, o momento que também, em nosso pais, estamos atravessando, grandes dificuldades em virtude da não preservação da Casa Comum, particularmente da Amazônia, ir com os jovens da Siginis Brasil para Muaná, representou um momento único, singular de desenvolvimento humano, profissional e de muita troca de afeto e carinho. Com toda certeza, deixamos um pouquinho de nós e trouxemos muito da comunidade de Muaná. Efetivamente nos colocamos em posição de viver a cultura do encontro, como nos pede o papa Francisco. Que venham outras missões!”, conclui Alvarenga.
Ao todo cerca de 400 pessoas participaram das diversas atividades desenvolvidas durante a primeira Missão de Comunicação na Amazônia da Signis Brasil. A proposta é que outras missões sejam realizadas e outros jovens possam ter a oportunidade de vivenciar essa experiência em território amazônico.
Por Osnilda Lima, secretária da Signis Brasil, com informações dos jovens missionários