O povo Ka’apor pede ajuda à Igreja na defesa da vida e da floresta

Foram dois dias de imersão e convivência com o povo Ka’apor, na maior Terra Indígena (TI) do Maranhão, ao Noroeste do estado. Ao retornarem da missão, o grupo realizou, no dia 21/12, uma coletiva de imprensa no Instituto de Estudos Superiores do Maranhão (IESMA), para partilhar o que ouviram e viram junto ao povo Ka’apor.

O território está inserido no Mosaico Gurupi, do qual fazem parte as TIs Awa, Caru, Alto Turiaçu e Reserva Biológica do Gurupi. Nesse espaço,  o Conselho dos Tuxa Ta Pame, conselho dos ancestrais,  convidou membros da Comissão Especial para a Ecologia Integral e Mineração da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CEEM-CNBB), da Rede Igrejas e Mineração, do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), do Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP), do Movimento dos Trabalhadores/as Rurais Sem Terra (MST) e do Grupo de Estudo sobre Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente, da Universidade Federal do Maranhão (GEDMMA-UFMA), para escutar e ver a realidade de ameaças e destruição que o povo e seu território estão vivendo. Participou também o padre Paulo Ricardo, referente pela pastoral indigenista da Diocese de Zé Doca. Os Ka’apor vivem sob constantes ameaças de madeireiros, garimpeiros e de empresas de mineração. As comunidades também vêm sofrendo com a sedução dos projetos para créditos de carbono.
O bispo de Floresta (PE) e membro da Comissão para a Ecologia Integral e Mineração, dom Gabriel Marchesi, conta: “O povo está em situação de invasões e ameaças, não só do território, mas da própria vida. Uma coisa que aprendemos junto com eles é que a vida do povo Ka’apor é interligada com a vida da floresta: educação, saúde, defesa do território. Tudo depende da floresta. Eles falam de aprender com a floresta. E a vida na floresta é fundamental para a cultura deles”.
O bispo conta que o povo Ka’apor está sofrendo invasões por parte de caçadores, madeireiros e mineradoras. “Essas empresas, muitas vezes, atuam sem nenhuma autorização, isso fragiliza ainda mais a reação e resistência dos povos. Essas ações, além de provocar a devastação, promovem a divisão nessas comunidades, por meio de privilégios e favores; isso cria conflito de interesses”, descreve dom Gabriel.
“O povo Ka’apor pediu para nossa Comissão e para a Igreja em geral que pudéssemos tomar consciência de sua realidade, ver e escutar as suas palavras, se dar conta dos sofrimentos e das preocupações e por fim dar ressonância pelo Brasil afora do que está acontecendo com os Ka’apor. Vida e dignidade não podem ser trocadas por dinheiro. Encontramos duas realidades, uma de defesa da vida e da floresta e outra de destruição e morte da vida e da floresta”, conclui dom Marchesi.
O coordenador da colegiada do Conselho Indigenista Missionário do Maranhão (Cimi-MA), Gilderlan Rodrigues, lembra que nessa luta de defesa e proteção dos territórios os Ka’apor são criminalizados e deslegitimados. “É um trabalho que busca o autogoverno, que visa integrar a questão da saúde, da educação, como forma interligada de conexão com o território”.
O assessor da CEEM-CNBB, padre Dário Bossi, afirma que a missão continua, depois da visita, com o compromisso e uma aliança selada pela Igreja junto ao povo Ka’apor, a partir do pedido de colaboração deles, primeiramente dando visibilidade às denúncias deste povo e reforçar suas reivindicações junto ao Ministério Público Federal do Maranhão.

Foram dois dias de imersão e convivência com o povo Ka’apor, na maior Terra Indígena (TI) do Maranhão.

Relatório

Padre Dário ressalta que um relatório detalhado da visita está sendo preparado, como insumo para outras ações de incidência política, com particular destaque na luta contra a impunidade frente às ameaças e às mortes que o povo Ka’apor sofre. “Neste sentido, membros da missão confirmaram sua participação na próxima Marcha da Floresta, prevista em 2024 para honrar a memória do líder indígena Sarapó”. Sarapó era um dos principais responsáveis pela criação de sistemas de autodefesa indígena do país; era alvo de ameaças e integrava o Programa de Proteção a Defensores e Defensoras de Direitos Humanos do Maranhão desde 2015. O líder indígena morreu de forma misteriosa, com fortes suspeitas de envenenamento, no dia 14 de maio de 2022, aos 45 anos.
O assessor conclui que “os membros da missão ofereceram sua disponibilidade para colaborar na formação sobre os riscos e as ambiguidades dos projetos de crédito de carbono. Também, abrem-se perspectivas de colaboração para denúncias e incidência internacional, junto a instituições de defesa dos direitos, com participação ativa da Igreja”.
*Por Osnilda Lima
Com a colaboração de fotos e informações de Elitiel Guedes

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